sexta-feira, 24 de abril de 2009

SELVA MODERNIZADA - JOANA D'ARC MEDEIROS DE AZEVEDO DA MATA


A cidade dorme a toque de voragem.
Nas ruas desertas, descortina-se uma paisagem selvagem.
Boêmios e travestis passam despercebidos,
Por entre jovens perdidos e desorientados.
Do asfalto jorra sangue como se fosse petróleo.
Nos botequins, mistura-se o cheiro forte de urina e óleo.
Sinto-me neofita dentro de um ritual de amargura.
Frágil , exposta como se levasse o mundo nas costas
Este lirismo mórbido deixa meu coração em pedaços,
Como os barracos que por ele passo..
Tenho vontade de parar, mais me falta espaço
Estou cansada de ver tanta mesquinhez.
Sinto tamanha angustia que me sufoca,
Qual lamina fria, me corta
Retalha-me em fatias tortas
Arruína os muros das mansões, prisões
Estou farta dos restos que vão para divisão
De uma população que em procissão
Marcha sem condição
Iludindo-se com canções caóticas
Numa nação com tão pouca direção
Governada por homens sem condição
Que não valoriza a saúde e a educação
Com falta de amor e solidariedade
Que esquece de olhar em sua volta
Passa por cima de crianças mortas
Policiais corruptos, políticos sem escrúpulo e marginais
Que não tem noção da grandeza do amor
Que ignora a falta de moradia e pão para o trabalhador
Que nega a terra para o lavrador
Que poda a liberdade do índio
Exige do professor uma postura de robô
Permite inescrupulosos fazer da religião profissão
Enfim... Sou parte desta sociedade, não posso parar.
Sou obrigada a votar e tenho que aceitar
Os discursos do prefeito, do presidente, do governador
A falta de caráter do deputado e senador
A falta de preparo do vereador
Ser obrigada a votar e sufocar meu grito de horror
E esperar paciente pelo milagre do Redentor
Num pais onde a liberdade
É desafiada pela própria morte
Mas contradizendo toda modernização
A moeda forte continua sendo a opressão

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