quinta-feira, 18 de abril de 2013

UMA LENDA DE AMOR -JD 24- SP 18-04-2013


UMA LENDA DE AMOR

                               Esta é mais uma das muitas lendas que ouvi quando criança, contada pelo meu pai, enquanto contemplávamos as águas claras do rio Potengi a espera da primeira Tainaçã nos anunciando a hora da partida.



A velha índia Jacui
Quando contava historias da sua tribo até chorava
Com saudade das horas que passava no bucui
Espantando o calor enquanto a tarde desmaiava

Lembrava com entusiasmo do verde da sua terra
Da bravura dos seus anacês
Das anajés que rasgavam as nuvens rumo a serra
E dos uivos assustadores dos aracambés

Guardava um grande segredo em seu anga
Cujas recordações tristes lhe faziam sofrer
As vezes seu olhar perdido era de amgaba
Como se preferisse seu passado esquecer

Uns falavam que seu abaíba, foi capturado por unm abaçai
Outros que foi enganado por uma nambiquara
até mesmo que desapareceu no acarai
Mas, o que a maioria acreditava, foi que ele se casou com Amanaiara.

Porque um certo amanaje,garantiu que conheceu três filhos desta união
Que o nome do mais velho era Tupã
O do meio por ser sábio recebeu o nome de Amao
E o caçula pela bravura Cauã

Falou também que ele nunca conseguiu amar a sua esposa
E que da doce Jacuí nunca esqueceu
E que só aconteceu esta  união tão misteriosa
Por feitiço do Pajé, mas o porque, ninguém nunca entendeu

Outros já contavam que numa linda manhã de verão
Quando o so, alaranjado anunciava o alvorecer
Jacuí e seu amado imploraram ao pajé, loucos de paixão
Que os unisse de tal forma que nem depois de mortos um do outro iria se esquecer

Pejé se emocionou e para cada um deu uma obrigação
Imaginando que eles jamais conseguiriam realizar
Mas quem é capaz de imaginar o que se passa no coração
De dois apaixonados quando seus sonhos desejam alcançar?

Como a tarefa era quase impossível
e o feiticeiro tinha certeza que eles não iriam executar
Co um sorriso irônico e cruel
Compassadamente ele se pôs a explicar

Ela teria que nadar pelo acaraú antes do dia amanhecer
Com uma corda amarrada na mão
Para laçar e trazer com vida a maior acará que aparecer
E amarra-la aos pés de uma ibirajuba, sem medo nem hesitação.

Ele por sua vez escalaria a serra até o ponto mais alto
E traria a acauã mais feroz antes da lua se despedir
Não podia usar arma em nenhum momento
Tomando muito cuidado para ela não fugir

Os jovens se despediram e partiram
Sem ouvir nem mais uma palavra que tupã tinha a dizer
Para surpresa do velho índio no dia seguinte chegaram
Cumprindo assim o que se dispuseram fazer.

Ansioso o guerreiro perguntou o que teria que fazer:
- Devo sangra-la e beber seu sangue,
 ou o meu feito a Rudá oferecer?
- Enfim, agora devo fazer o que?

Então o feiticeiro ordenou calmamente:
 -Unam as aves e amarre suas patas firmemente.
Depois as solte para que possam voar livremente
e depois observem o que vai acontecer, atentamente.

Ansiosos o casal fez o que lhe foi ordenado.
Soltaram os pássaros delicadamente.
Eles tentaram voar mas em vão, ficaram no terreiro pulando.
E em poucos minutos estavam se bicando furiosamente.

E pajé falou: - Jamais esqueçam do que estão vendo,
este é o conselho que vos dou.
Os homens são como pássaros fiquem vocês sabendo.
Se perdem a liberdade o amor transforma-se em dor.

Daí os dois resolveram parar um pouco e pensar,
Se valia a pena sacrificar a liberdade em nome do amor
Soltaram-se e pela mata começaram a caminhar
Apreensivos diante daquele amor tão avassalador

Depois disto a bela Jacui
Nunca mais entregou seu coração
E na aldeia todos disseram que foi a partir daí
Que na terra houve a divisão do amor e da paixão

Muitas foram as lendas criadas depois que isto aconteceu.
Algumas lições deixadas que ate hoje podem nos ajudar
Mas a maioria acreditou que desiludido do amor ele quase morreu
E por isto a Deusa da chuva resolveu dele cuidar.

Nas amunadabas todos lalavam que eles nunca foram felizes.
E quando Amanaiara ficava de calundu,cuspia amãtiti e arrancava as árvores
E ele envergonhado acalmava a fúria dos rios e replantava as raízes
Talvez para esquecer um pouco as suas dores.

Do dicionário Tupi-Guarani

Acaraú: Rio das garças
Acauã: Ave que mata as cobras e sustenta com elas seus filhos.
Amundaba: Aldeia vizinha, arrebalde.
Amãtiti: Raio, corisco. Acará: Garça, ave branca.
Anacês: Parentes.
Anajés:Gavião de rapina
Aracambés: cachorro do mato,
Anga: Alma,
Angaba: Exprime compaixão
Abaçai: gênio perseguidor de índios Acarai : Rio das garças,
Amanaiara: A senhora da chuva
Amao: personagem divina que ensinou aos indigenas do rio Camanaos, do rio Negro
Anajé - mensageiro
bucui: rio de areia fina
Cauã: gavião. Também todas as aves de rapina
Calundu: de mão humor,cabeça quente
Goitacá:nômade, errante,aquele que não fixa em nenhum lugar
Ibirajuba: Arvore amarela,do tupy ybirá: arvore,tronco,madeira e yuba: amarelo,ouro
Nambiquara:sabedor das coisas,esperto,sabido,vivo
 Pajé lider espiritual e curandeiro da tribo Tupã: entidade adotada para ser supremo trovão
 Rudá: Deus do amor


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